domingo, novembro 26, 2006

12.000 por mes, também quer?

R$12.000/mes. Trabalhar no México, com mais U$40 por dia de alimentação, hotel pago e uma passagem por mes pra passear em casa. Não tá ruim, né? Pois é, assim até eu fico com ciúme. Mas digo que fico com mais do que isso: eu fico indignado.
Indignado porque o cara que ganha isso não entende nada de EJB, nem XP, UML, RUP, CMM, anotações e nem tem idéia da existência de coisas como Hibernate, Ajax, Patterns, renderização, instrumentação de código, AOP, XUL e tantas outras coisas que arduamente a gente aprende. Em contrapartida, esse cara simplesmente entende (?) de três letrinhas básicas: SAP.
Sim, sem faculdade, sem inglês ou espanhol, sem noção alguma de gerência de projeto, arquitetura de sistemas e qualquer outra coisa, com 3 cursinhos e uma entrevista já levaram o cara daqui para essa que descrevi logo acima.
Não digo que tenho inveja, mas fico pensando porque a gente que conhece tantas outras coisas, que trabalha muito mais, tem muito mais experiência e uma visão muito maior da TI não consegue essas barbadas?
Eu, com 29 anos, com muito custo consigo uma alocação como projetista pra ganhar nem R$4.500. Luto contra o tempo para terminar o mestrado, dou cursos extras, faço consultoria, palestras e viro as madrugadas projetando e programando em projetos livres para não conseguir chegar nem na metade do que o cara ganha. Alguma coisa tá errada.
Por vezes penso em largar tudo que sei em várias áreas e descambar para esse lado de ERP. Fazer uns cursinhos (um pouco caros, é bem verdade) e ter um retorno "graúdo" a olhos vistos. Me desligo da sopa de letrinhas que domino, páro de ler livros, artigos, desisto dessa história de mestrado e doutorado e me foco em algumas provinhas e certificações e com um pouquinho de inglês e boa vontade, posso beirar os R$20.000.
Mas daí lembro que não gosto de viajar, não tenho muito paciência com essa história de lidar com usuários e, principalmente, minha visão autruísta das coisas me coloca de volta no lugar onde estou hoje: trabalhando sem retorno.
Quero ainda ganhar muita grana, mas quero - principalmente - a satisfação de saber que essa grana veio de coisas que eu criei, como o Merlin, o Magoo, o Jestor e agora, o recém-batizado Melvin. Como dizia um amigo meu, como satisfação de vida estaria o fato de termos montado uma empresa - a nossa empresa - e saber que o pão e o leite que o funcionário aquele leva para seus filhos em casa, foi resultado de uma idéia, um conceito, uma visão que tivemos muitos anos atrás. Uma idéia que teve de ser lapidada, trabalhada durante dias, noites, madrugadas, semanas, meses e talvez anos, mas que enfim, rendera seus frutos.
Sou assim, tenho um pontinho de ressentimento ao ver alguns colegas ganhado muito mais do que eu com muito menos esforço. Mas nem por isso me acrubunho e vou para o time deles. Luto, da minha forma, à minha maneira. Não desisto dos meus ideais e não mudo meu caminho. Por vezes, quem está comigo sofre junto, mas qual seriam os louros de uma vitória sem esforço?
Quando vejo o cara andando com seu 307 novinho, pareço ter uma recaída. Quando o vejo mais novo e com uma morena linda ao seu lado, meu estômago se revira. Mas ei que não largo da minha velha C10 e quanto à morena, não tem problema, pois em casa, mesmo longe, já tenho a minha amada, mãe de meu filho e eternamente apaixonada.
Continuo a trabalhar firme e confiante. Um dia, eu viro o jogo.

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